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  • Foto do escritorRedação

Saiba como mulher do 'faraó do bitcoin' foi banida do mercado financeiro da Venezuela



O passado da venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, de 38 anos, ainda é um tanto obscuro. Mulher de Glaidson Acácio dos Santos, da mesma idade que ela, Mirelis é considerada pela Polícia Federal como o “cérebro” do esquema milionário fraudulento de pirâmide financeira. Já em 2014, quando iniciou sua carreira no mercado financeiro, conforme O GLOBO apurou com um operador de criptomoedas da Venezuela que a conhecia, ela era uma das administradoras do grupo Bitcoin Venezuela (formado por aficcionados neste tipo de negócio), dentro do Facebook.


Segundo a fonte, um ano depois de conquistar os investidores, o esquema montado por ela quebrou. Além do duro golpe nos conterrâneos, o nome de Mirelis passou a integrar a lista negra do sistema financeiro do país.


Mirelis está foragida da Justiça desde o dia 25 de agosto, quando foi deflagrada a Operação Kryptos da Polícia Federal (PF), em conjunto com o Ministério Público Federal, a Receita Federal e a Procuradoria da Fazenda. Ela e o ex-garçom Glaidson, conhecido como o ‘Faraó do Bitcoin’, que está preso, montaram no Brasil o mesmo esquema que ela implantou na Venezuela. Enquanto no país de Mirelis ela prometia lucro de 10% em três meses de investimentos, por aqui a oferta era a mesma, mas num prazo de 30 dias.


Segundo o operador da Venezuela, que pediu para não ser identificado por temer represálias do grupo do casal, Mirelis se apresentava como trader nível 3. Trader é um investidor do mercado financeiro que busca ganhar dinheiro com operações de curto prazo, aproveitando-se da volatilidade do mercado. Há três níveis de classificação: 1 para iniciante; 2, intermediário; e 3, sênior. Neste último estágio, a pessoa é reconhecida no mercado por obter as melhores taxas. Mirelis era trader tipo3 na Surbitcoin e na Foxbit, exchanges mais populares da América Latina na época, no caso, da Venezuela e do Brasil, respectivamente.


— Mirelis expunha as contas dela e chegou a postar um vídeo no grupo Bitcoin Venezuela para dar credibilidade ao seu perfil e, assim, atrair mais investidores. Ela era realmente uma trader que movimentava valores bem expressivos. O pessoal confiava nela. Todo mundo via que era uma das principais traders do mercado venezuelano, até que a coisa explodiu — contou o operador, referindo-se ao golpe aplicado por ela no mercado financeiro.


Segundo a fonte da Venezuela, para Mirelis comprar e vender os Bitcoins, ela pedia crédito a duas plataformas de empréstimos de criptomoedas: a BTCJam e a Bitlendingclub. À época, ambas competiam pelos usuários. O esquema dela era o seguinte: a venezuelana fazia pedido de empréstimos em uma plataforma para pagar as dívidas contraídas na outra, e vice-versa. Dessa forma, ela construía um histórico de boa pagadora, o que permitia que ela solicitasse mais créditos. Se aproveitando do fato de as duas plataformas não se comunicarem entre si, ela conseguia pagar uma dívida contraindo uma outra maior ainda.


Como, em tese, ela não auferia lucros, aBitlendingclub desconfiou da real intenção de Mirelis. Quando a plataforma a impediu de fazer novos empréstimos, o esquema montado por ela ruiu. Sem ter como honrar as dívidas, ela teria aplicado o golpe nos investidores e credores, desaparecendo, inclusive, das redes sociais, uma vez que ela, fisicamente, já estava operando do Brasil. O rombo foi de mais de 300 bitcoins, o equivalente, em 2015, a 100 mil dólares, para cada investidor em média. A maioria que acreditou nela era de venezuelanos. Banida do mercado financeiro da terra natal, a venezuelana passou a atuar no Brasil.

O administrador de uma comunidade de criptomoedas no Twitter, que também não quis se identificar, conta que se lembra dela em 2015 e confirma o golpe.

— Essa mulher tem que ser presa logo — comentou ele.


Como a esposa do ex-garçom temia ser reconhecida depois de aplicar o golpe na Venezuela, coube ao marido ficar à frente dos negócios por aqui. Assim, ambos criaram a G.AS Consultoria, embora só ele aparecesse. Segundo os investigadores federais, Glaidson tinha a “cara do negócio”. Seu papel era mostrar que, até ele, um ex-garçom, pessoa simples, poderia se tornar um investidor de criptomoedas de sucesso.


MIRELIS ENTROU NO BRASIL COMO REFUGIADA

De acordo com o relatório final da Polícia Federal, que indiciou o casal e mais 20 pessoas por crime contra o sistema financeiro nacional, Mirelis chegou ao Brasil em 13 de novembro de 2013 na condição de refugiada. Para os investigadores federais, ela se manteve em território brasileiro, provavelmente, “em razão de seu relacionamento amoroso com Glaidson”.


Os dois teriam se conhecido entre 2008 e 2009, numa cidade da América Central. Na época, Glaidson já era pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). De acordo com um processo movido pela igreja contra 11 ex-pastores acusados pela instituição religiosa de desvio de dízimos e de ofertas dos fiéis, em 25 maio deste ano, a entidade afirmou que Glaidson foi pastor por 15 anos, inclusive na Venezuela. Ele foi relacionado neste caso com os colegas, porque, um deles, seria dono de uma empresa que funcionava no mesmo endereço da G.A.S, em Brasília.


O relatório da PF, os investigadores reforçam o “conhecimento técnico acerca de operações digitais” de Mirelis, tendo sido ela quem “inseriu Glaidson no universo das criptomoedas e afins”. Em certo trecho do documento é dito que isso fez com que “ele rompesse seu vínculo empregatício junto ao quiosque”, que pertencia ao ex-garçom, “e passasse a promover aportes em exchanges”.


Além de Mirelis ser sócia do ex-pastor na G.A.S Consultoria e Tecnologia LTDA (com capital de R$ 75 milhões), o casal também é dono da G.A.S Inovação Tecnologia Artificial LTDA (R$ 1 milhão). Ela ainda integra o quadro societário da M.Y.D. Zerpa Tecnologia Eireli, que tem as iniciais do nome dela, com outra pessoa.


A real evolução patrimonial de Mirelis não aparece nas declarações de renda dela. A Polícia Federal apurou que, em 2020, Mirelis comprou uma casa no valor de R$ 3,6 milhões no Itanhangá, Zona Oeste do Rio. Para o delegado do caso, Guilhermo Catramby, que assina o relatório, o imóvel seria a “materialidade de crime de branqueamento de capitais, ante a ausência de lastro hígido apto a embasar a aquisição legítima do bem”. No imposto de renda de 2017, relativo ao ano anterior, no qual regularizou sua situação no Brasil, ela declarou morar numa casa simples na Praia do Siqueira, em Cabo Frio, o mesmo endereço do marido.


O nome dela consta na difusão vermelha da Interpol para extradição. As últimas informações obtidas pela PF é de que ela sacou mais de R$ 1 bilhão, no dia 31 de agosto _ seis dias depois de desencadeada a Operação Kryptos_, de forma remota, de um endereço da Flórida, nos Estados Unidos. Possivelmente, Mirelis já deve ter se deslocado. O esforço agora dos investigadores é analisar os quatro celulares encontrados, no último dia 28, na cela de Glaidson, na Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo de Gericinó. A esperança é de que nos aparelhos seja encontrada uma pista que leve a polícia à Mirelis, o cérebro da organização criminosa.

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